terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A propósito do Bairro da Jamaica

António Avelãs
Total solidariedade com Mamadu Ba, com os dirigentes do B.E. e com todos os que combatem o racismo e a violência policial quando desnecessária ou desproporcionada
Neste fim de semana (26 e 27 de janeiro) o jornal Público inseriu um conjunto de textos, pertinentes e rigorosos, sobre os acontecimentos no bairro da Jamaica e desenvolvimentos conexos. Sobre o comportamento da polícia, Joana Gorjão Henriques (dia 26) titula o seu texto: Perita de Comité Antitortura diz que agressão da PSP “parece completamente desnecessária, admitindo a juíza que agressões podem violar artigo de Tribunal Europeu dos Direitos Humanos”. Afirmação que fica robustecida com artigos publicados no dia 27: Podia ser a minha mãe(assinado por Joana G. Henriques e outros) no qual vários jovens justificam a sua participação nas manifestações contra a violência a partir das imagens dos incidentes no bairro da Jamaica. Nesse mesmo número merece leitura atenta o excelente artigo de Vitor Belanciano caracterizando o Jamaica como um bairro onde a origem africana da maioria dos habitantes se associa a uma enorme degradação das habitações, da pobreza e do desemprego, mas também afeto, amor e redes de vizinhança.
Perante um comportamento policial desnecessariamente agressivo e “bruto”, impõe-se reagir. Mamadu Ba reagiu, como lhe competia. Fê-lo em termos inaceitáveis, ofensivos e injustos para com a generalidade dos polícias. Joana Mortágua também o fez, em termos eventualmente pouco ajustados. Mas aqui somos levados ao artigo de Liliana Valente titulado Dirigentes do BE alvo de insultos e ameaças de violência e morte nos últimos dias precisamente por denunciarem a violência policial no caso do bairro Jamaica. E aqui merece aplauso o texto de João Miguel Tavares (dia 25), com o título A cor da pele de António Costa onde se pode ler: “Mas se eu tiver de escolher entre Mamadu Ba e os dois energúmenos de extrema-direita que o perseguiram na rua e argumentos do género ”os portugueses estão a pagar o teu salário, vê lá mas é se tens respeitinho” garanto que estarei sempre ao lado de Mamadu Ba”. Eu também. Ao lado de Mamadu Ba, dos dirigentes do B.E e de todos os que se opõem ao racismo e á violência policial. E tenho a certeza que a esmagadora maioria dos professores estão do mesmo lado.
Este fim de semana valeu a pena ler o Público!
António Avelãs

4 comentários:

  1. O dilema não se põe em estar ao lado do Mamadu Ba ou da Joana Mortágua, mas sim ao lado dos moradores daquele bairro que é a vergonha da nossa democracia. A termos que escolher seria pelo realojamento dos moradores em condições de dignidade que esta sociedade lhes nega. Vivem num gueto miserável, de pobreza e violência. Bairro que nunca devia ter existido. A pobreza não é geradora de integração. A exclusão propicia violência. Devíamos estar sim, a clamar pelo fim destes bairros que nunca deveríamos ter deixado erguer.

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  2. Totalmente de acordo com este artigo do Avelãs. A propósito transcrevo aqui o email que enviei à jornalista Joana Gorjão Henriques, aproveitando para lhe falar da minha experiência como professora de muitos alunos do Bairro Jamaica em Vale de Chícharos, Seixal. Almerinda Bento

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  3. Utilizo este email que penso ser o da jornalista Joana Gorjão Henriques para a felicitar e também ao jornalista Vítor Belanciano pelo excelente trabalho que fizeram este fim de semana no P2 sobre o Bairro da Jamaica em Vale de Chícharos. Uma ilha de informação e de vida numa semana em que a desinformação e a maldade racista imperaram para falar dos acontecimentos no bairro.

    Moro no Fogueteiro a cem metros do Bairro. Fui professora e membro do Conselho Directivo da Escola Paulo da Gama onde muitas crianças do Bairro eram alunos/as. Conheço bem aquela realidade de pobreza e exclusão. Sei de muitos alunos que vivendo lá diziam que moravam no Fogueteiro e não em Vale de Chícharos por causa do estigma. Conheci vários polícias da Escola Segura que faziam um trabalho impecável e que tinham uma boa relação com os miúdos, mas também conheci outros que faziam uso do seu estatuto de polícias e da sua farda para abusarem. Conheço bem essa realidade, mas quem a conhece melhor são os/as moradores/as do Bairro que no dia a dia sentem os olhares e as atitudes, só pela sua cor de pele!

    Durante vários anos, fiz reuniões no Bairro com pais (eram sobretudo mães) de alunos/as que aí viviam. À noite, ao fim do dia e nunca fui molestada. Quando os pais não iam à escola saber das notas dos seus filhos, ia a escola ao bairro. Muitas daquelas mães saíam bem cedo de casa para os trabalhos e regressavam bem tarde e não havia disponibilidade nem tempo para irem à escola. E não se podia perder o elo entre a escola e o bairro e portanto eu conheci essa realidade. Uma experiência enriquecedora.

    Daí mais uma vez dar-vos os parabéns pelo P2 e a forma como trataram aqueles miúdos e os moradores da Jamaica.

    Os meus sinceros cumprimentos


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  4. Transcrevo aqui o email que escrevi à jornalista Joana Gorjão Henriques felicitando-a pela excelente peça jornalística sobre este tema.
    "Utilizo este email que penso ser o da jornalista Joana Gorjão Henriques para a felicitar e também ao jornalista Vítor Belanciano pelo excelente trabalho que fizeram este fim de semana no P2 sobre o Bairro da Jamaica em Vale de Chícharos. Uma ilha de informação e de vida numa semana em que a desinformação e a maldade racista imperaram para falar dos acontecimentos no bairro.

    Moro no Fogueteiro a cem metros do Bairro. Fui professora e membro do Conselho Directivo da Escola Paulo da Gama onde muitas crianças do Bairro eram alunos/as. Conheço bem aquela realidade de pobreza e exclusão. Sei de muitos alunos que vivendo lá diziam que moravam no Fogueteiro e não em Vale de Chícharos por causa do estigma. Conheci vários polícias da Escola Segura que faziam um trabalho impecável e que tinham uma boa relação com os miúdos, mas também conheci outros que faziam uso do seu estatuto de polícias e da sua farda para abusarem. Conheço bem essa realidade, mas quem a conhece melhor são os/as moradores/as do Bairro que no dia a dia sentem os olhares e as atitudes, só pela sua cor de pele!

    Durante vários anos, fiz reuniões no Bairro com pais (eram sobretudo mães) de alunos/as que aí viviam. À noite, ao fim do dia e nunca fui molestada. Quando os pais não iam à escola saber das notas dos seus filhos, ia a escola ao bairro. Muitas daquelas mães saíam bem cedo de casa para os trabalhos e regressavam bem tarde e não havia disponibilidade nem tempo para irem à escola. E não se podia perder o elo entre a escola e o bairro e portanto eu conheci essa realidade. Uma experiência enriquecedora.

    Daí mais uma vez dar-vos os parabéns pelo P2 e a forma como trataram aqueles miúdos e os moradores da Jamaica. Almerinda Bento

    Os meus sinceros cumprimentos


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